domingo, 29 de junho de 2003

A Prosa de Barbosa




Aos 58 anos, Antonio Carlos Barbosa acaba de ser campeão sul-americano adulto pela sexta vez e passa a ser o técnico brasileiro com o maior número de títulos do continente. Em 2003, esse paulista de Bauru está completando 40 anos de carreira e 27 como técnico da seleção brasileira. Os próximos desafios são os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, na Republica Dominicana, em agosto, e o Torneio Pré-Olímpico do México, em setembro, que irá classificar o campeão para as Olimpíadas de Atenas em 2004.


O que mudou no técnico Barbosa do Campeonato Sul-Americano do Peru (1977) para o Sul-Americano do Equador (2003)?

Amadureci muito, acumulei bastante experiência e vivência internacional. Continuo, como no início da minha carreira, priorizando a disciplina e a responsabilidade, porém, sem os extremismos e a intransigência que me caracterizava naquela época.


Pela segunda vez, você está no comando da seleção principal. De maio de 1997 até hoje, qual sua análise da seleção feminina adulta?

Minha volta à seleção foi em um momento bem diferente da minha chegada. Quando assumi a equipe adulta em 1977, tive que promover uma renovação completa, era uma geração saindo e outra entrando. Quando retornei, em 1997, o panorama era outro. Hortência já havia parado (1996) e Paula e Marta deixaram a seleção depois (em 1999 e 2000, respectivamente). Foi um momento de transição entre gerações, quando comecei a utilizar como titulares jogadoras que já estavam no grupo, porém tinham pouco tempo de jogo sem participações efetivas nas competições. O mérito do trabalho desses últimos seis anos é que conseguimos manter o alto nível do basquete brasileiro. Aqui no Equador, por exemplo, não temos nenhuma jogadora que estava no Sul-americano de 1997, no Chile. Isso mostra que as jogadoras que estão chegando estão conseguindo dar continuidade ao trabalho desenvolvido.


Se tivesse que recomeçar sua carreira no basquete, você faria tudo de novo ou mudaria alguma coisa?

Com certeza, faria as mesmas coisas. Talvez corrigiria alguns atos que cometi por imaturidade ou falta de experiência. Tenho convicção de que sempre procurei fazer o melhor.


Qual o título que falta na sua carreira?

Apesar de tantos anos de seleção brasileira, ainda não tive a felicidade de subir ao pódio em um Campeonato Mundial. Por duas vezes ficamos em quarto lugar (Mundial Juvenil do Brasil/1997 e Mundial Adulto da Alemanga/1998). Isso é o que falta na minha carreira.


Em 40 anos de carreira como técnico e 27 anos na seleção brasileira cite três momentos inesquecíveis.


O basquete vem me proporcionando sempre grandes emoções. A importância de uma conquista tem relação com o panorama em que a competição está envolvida. Em 1978, no Peru, fomos campeões pan-americanos juvenis vencendo as americanas na final. Em 1997, a conquista da Copa América Adulta em São Paulo foi muito gratificante. Foi na época da mudança da presidência da CBB, e como eu voltei na gestão anterior, algumas pessoas contavam com a troca da comissão técnica. A Copa América consolidou meu trabalho. Mas claro que para qualquer um que vive de esporte, nada substitui uma medalha olímpica. O bronze conquistado em Sydney 2000 sempre será um marco na minha carreira.


As Olimpíadas de Atenas (2004) e Mundial do Brasil (2006) podem ser as suas últimas competições no comando da seleção brasileira?*

É sempre difícil falar em permanência ou despedida. Na minha opinião, a função de técnico é a única em que quanto mais velho, mais experiente melhor, desde que, claro, procure, além de acumular experiência. buscar se reciclar, procurar novas informações, sempre adaptando-as à nossa própria filosofia de trabalho. Em uma seleção brasileira, o trabalho do treinador deve ser sempre avaliado. É preciso estudar o desempenho do profissional, da equipe e do adversário.

O que é fundamental para ser um bom técnico e atingir o seu nível?

Para ser um profissional de alto nível, é preciso, além da competência, muito trabalho, transparência e honestidade.

Uma mensagem para os novos profissionais.

A oportunidade surge para todos. Não a espere chegar. Vá em busca dela. Sucesso só chega depois do trabalho.


Entrevista publicada no site da CBB


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* - Nota do editor - A pergunta dá a entender que a mão de Barbosa ainda comandará o basquete feminino por mais alguns longos anos. Podendo até alcançar 10 anos consecutivos no cargo...

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