terça-feira, 27 de julho de 2004

Coluna do Melk

Muita boa, como sempre, a coluna semanal do jornalista Melchiades Filho, na Folha.

Dessa vez, o editor de esportes do jornal reestuda as deficiências de nossa seleção, focando a falta de padrão no jogo das meninas.

(É a nossa seleção sem-cara.)

No final, o blog é citado como único sobrevivente na internet independente a acompanhar a campanha em Atenas.

Espero não decepcionar.



BASQUETE

Pense, dance


MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O balé torna-se repetitivo, previsível, chega a entediar o torcedor assíduo. Ainda assim, são poucos os times que excelem em quadra sem um "script", sem uma noção predeterminada do que (e como e em que momento) devem fazer ao longo do jogo.
No basquete profissional, o roteiro costuma seguir assim:
No primeiro quarto, as equipes medem forças, trocam "jabs", à procura dos defeitos do adversário. Perto do fim, acontecem as primeiras substituições, para que a "segunda unidade" engrene.
No período seguinte, já suados, os reservas aceleram o ritmo, na tentativa de desgarrar no placar. São rendidos poucos minutos depois pelos titulares, para reconstituir o padrão tático do time antes do intervalo -os treinadores não gostam de trabalhar no vestiário.
Todas as cartas, todos os trunfos, aparecem só na volta do intervalo, geralmente o ponto de inflexão das partidas. Como no primeiro quarto, no finzinho alguns suplentes ganham uma chance, para consolidar a liderança ou reverter um pouco a desvantagem.
Os "jabs" retornam na abertura do último período, mas dessa vez pelas mãos dos reservas. Os titulares assumem pouco antes da metade do quarto e partem para o pau até a definição do vencedor.
Por que a maioria dos técnicos acata esse "script"? Ok, lhes falta imaginação e ousadia. Mas, se a ferramenta pretende justamente dar identidade e coesão ao grupo, ensinar a cada atleta o seu papel em quadra, nada mais natural do que implantar o roteiro universal, decantado aqui e acolá.
"Essa dança, quase um cortejo à bola, deveria fascinar craques e coadjuvantes", defendeu em junho na TV o assistente-técnico Jim Cleamons, parceiro em setes dos nove títulos do legendário Phil Jackson. "Reconhecer o ritmo e o suingue, respeitá-los -às vezes, conscientemente, desrespeitá-los-, é tão importante quanto à capacidade de fazer uma cesta."
Eu lembrei desse papo de balé enquanto acompanhava amistosos e treinos da seleção que embarca nesta quinta para a Grécia.
Saía sempre intrigado, pois não conseguia detectar padrões. O time freava e acelerava distintamente nos jogos e exercícios táticos. As substituições pareciam aleatórias, às vezes gratuitas. Tampouco percebia critério nos chamados "special teams", formações peculiares utilizadas em lances ou períodos agudos.
Talvez Antonio Carlos Barbosa deseje definir o "script" só às vésperas da Olimpíada, para evitar curto-circuitos emocionais (daí, portanto, a generosidade nas folgas no bimestre de preparação, mais de duas semanas em sete).
Talvez o treinador não creia em fórmulas engessadas (embora seu auxiliar, Paulo Bassul, seja entusiasta da rotação metódica e balanceada de dez jogadoras, recurso que fez a diferença na conquista da prata no Mundial sub-21).
O problema é que, nas raras vezes em que prevaleceu na história do basquete, a "desestrutura" se valeu da criatividade, da inteligência intuitiva dos atletas.
Ao menos até agora, não parece a vocação desta seleção, ancorada por veteranas acostumadas a executar coreografias coletivas.

Baile 1
As meninas de Barbosa abrem o desembarque brasileiro na Grécia. Elas medirão forças contra cinco seleções em solo grego antes dos Jogos: Grécia, Rússia, Austrália, Nigéria e China. Os quatro primeiros são também adversários na primeira fase do campeonato olímpico.

Baile 2
A Fiba, confederação que rege a modalidade no mundo, não tem nenhum arquivo de dados/estatísticas do feminino em Olimpíadas.

Baile 3
Sem patrocínio, subiu no telhado o site www.basketbrasil.com.br. Na internet independente em português, restou o pbf.blogspot.com para monitorar/comentar a campanha das brasileiras em Atenas.

E-mail melk@uol.com.br


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