terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Fora-da-lei

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


O Comitê Olímpico Brasileiro distribuiu os boletins no final de janeiro, e o basquete foi o único que levou bomba. Só ele não apresentou contrapartidas concretas à tomada recorde de verbas públicas no ano passado.
"Este trabalho reflete a evolução técnica do esporte olímpico brasileiro em 2004. O crescente desenvolvimento está diretamente ligado aos recursos da lei 10.264", anuncia o relatório de demonstração da aplicação dos recursos recolhidos pelas loterias federais e repassados via Lei Piva.
O dinheiro começou a ser distribuído pelo COB em janeiro de 2002. Já foram investidos cerca de R$ 150 milhões. Pelo menos R$ 5,8 milhões caíram no colo da Confederação Brasileira de Basquete.
Por exigência da lei, todo mundo tem de prestar conta do que fez com a gaita. Mas, no caso da bola-ao-cesto, o catatau compilado pelo COB proporciona mais dúvidas do que esclarecimentos.
O basquete não obteve nenhum dos avanços de gestão esportiva relacionados por seus pares.
O movimento olímpico nacional, por exemplo, triplicou o número de centros de excelência. A CBB nem ergueu nem fixou um. A entidade continuou na mesma sede de antes da Lei Piva -pela qual, aliás, passou a brigar na Justiça. E não conseguiu alavancar os contratos de patrocínio e fornecedor de material esportivo.
A modalidade também não registrou nenhuma evolução técnica neste ciclo olímpico (2000-04).
No pelotão de elite, já se falou o suficiente dos tombos sofridos pelos comandados de Lula Ferreira, novamente ausentes da Olimpíada, e Antonio Carlos Barbosa, dessa vez ausentes em espírito.
Mas a situação das categorias de base é igualmente vergonhosa. O masculino não reverteu a neo-hegemonia argentina. E o feminino começou a sentir a água "hermana" batendo no bumbum.
O Brasil disputou seis campeonatos internacionais de base no ano passado. Na comparação com as edições imediatamente anteriores (a maioria realizada quando não pingava um centavo da lei das loterias), não subiu de patamar em nenhum. Piorou em quatro (Sul-Americanos de cadetes masculino e feminino, Copa América juvenil feminino e Copa América sub-21 masculino) e repetiu a classificação em dois (Sul-Americano juvenil feminino e Sul-Americano sub-21 masculino). A CBB, na auto-avaliação enviada ao COB, chamou isso de "participação de destaque". Afe.
O basquete não ampliou parcerias com o Ministério do Esporte, não investiu no desenvolvimento de jovens atletas, não criou comissões técnicas multidisciplinares, não melhorou a infra-estrutura de treinamento, não montou equipes olímpicas permanentes e, o cúmulo da lista de desacatos à Lei Piva, não turbinou a massa de praticantes -o número (declarado) de atletas federados só oscilou de 72.643 para 75.927 no ano.
"Pela primeira vez na história do país, o esporte olímpico vem recebendo recursos financeiros de forma contínua e ininterrupta", celebrou Carlos Arthur Nuzman no texto do COB. Ao menos no caso do basquete, está mais do que na hora de perguntar por quê.

Procura-se 1
O debate dos presidenciáveis, esta noite na UniverCidade (Rio), ficou para a oposição. Gerasime Bozikis, candidato à reeleição, pipocou.

Procura-se 2
Desempregadas, as mulheres de Atenas se refugiaram no exterior. O auxiliar Paulo Bassul resolveu estudar com colegas estrangeiros (iniciativa infelizmente rara por aqui). Dos Jogos-2004, resta no país Antonio Carlos Barbosa, o técnico que assume não ter nada para fazer.

Procura-se 3
O influente semanário americano "Sports Illustrated" vai disparar repórteres para todo canto do planeta com o intuito de achar a fonte dos craques do futuro. O Brasil foi descartado do plano de viagem.

E-mail melk@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo

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