terça-feira, 24 de maio de 2005

Érika Cristina de Souza

A pivô Érika de Souza está de férias no Brasil trazendo na bagagem mais um título. A jogadora da seleção brasileira foi campeã da Liga Espanhola pelo Barcelona e eleita a melhor estrangeira da competição. Érika é um dos grandes destaques do basquete feminino atual. Com 23 anos e uma trajetória vitoriosa, essa carioca está de bem com a vida e passando pelo melhor momento de sua carreira. De contrato renovado com o Barcelona por mais um ano, ela volta para cidade em setembro. Até lá, sua prioridade é se recuperar da lesão do tornozelo, que quase a tirou do campeonato espanhol, para estar na melhor forma possível na próxima temporada. Além disso, a atleta vive a expectativa de realizar um grande sonho: jogar o Mundial Feminino no Brasil. Para Érika, será maravilhoso atuar no Rio de Janeiro, tendo família e amigos na torcida.


Como foi a conquista do título espanhol?

Foi mais um grande momento de alegria e superação na minha vida. Tive um começo de temporada ruim. Na equipe, éramos cinco jogadoras olímpicas e a concorrência era enorme. Comecei no banco e ainda tive uma lesão no tornozelo. Me desesperei pensando que não jogaria o campeonato. Mas deu tudo certo, graças a Deus, e não poderia terminar melhor, com o título e a eleição de melhor estrangeira da Liga.


Como avalia seu desempenho no Barcelona?

Depois que me recuperei do tornozelo, consegui mostrar meu talento e conquistar meu espaço no time, principalmente por causa do meu ótimo desempenho nos rebotes. Além disso, melhorei na defesa e no aproveitamento de lance-livre. O contato que tive com grandes jogadoras, como Helen, Ingrid Pons e Betti Cebrian me fizeram aprender muito. Apesar da minha experiência, eu sou sempre a caçula da equipe e isso é bom, pois todos são muito carinhosos comigo e procuram me dar conselhos para jogar cada vez melhor.


E você acha que ainda tem o que melhorar?

Claro. Procuro seguir o conselho da técnica Maria Helena Cardoso, que sempre me dizia que a atleta tem que ser o mais completa possível. Agora estou treinando arremesso de média distância e de três pontos. Uma pivô que sabe chutar de longe pode ser um fator surpresa muito importante para a equipe.


Como foi sua adaptação na Espanha?

Dei muita sorte porque encontrei vários brasileiros aqui. A Helen, que joga comigo em Barcelona e o seu marido, que é espanhol, me deram a maior força. Fiz muitas amizades com os meninos do futebol, como o Ronaldinho Gaúcho e todos me ajudaram a me sentir mais à vontade em um país distante.


Do que sente mais falta do Brasil?

Além da minha família, sinto falta do verão. Na Espanha faz muito frio. Quando saio da Europa é que o clima está ficando mais quente e chego no Brasil no início do inverno. Estou louca para pegar uma praia. Outra coisa que sinto falta é da música brasileira. Mas essa saudade a gente mata com um churrasco e pagode na casa de amigos.


Você já jogou nos Estados Unidos, Espanha e Hungria. Qual deles gostou mais?

Sinceramente não gostaria de voltar para a Hungria. É um país lindo, mas as pessoas são muito reservadas. Já Los Angeles e Barcelona são mais parecidas com o Brasil, o povo é mais simpático e divertido. Nos Estados Unidos vivi uma experiência maravilhosa sendo campeã da WNBA. Agora mais um título na Espanha. Só tenho motivos para agradecer a Deus pelo meu sucesso jogando no exterior.


Como o basquete feminino é visto fora do Brasil?

O talento da jogadora brasileira é sempre reconhecido. Fui bem recebida em todos os clubes que trabalhei e consegui mostrar meu potencial e ajudar as equipes em que joguei.


Quais seus planos para a próxima temporada?

Renovei com o Barcelona por mais um ano e volto para lá em setembro. Por enquanto minha prioridade é cuidar do meu tornozelo para evitar outras contusões daqui para frente para não ter problemas nem no Barcelona nem na seleção.


Quais suas expectativas para o Mundial de 2006, no Brasil?

As melhores possíveis. Tenho mais de ano para me preparar e estar na melhor forma para fazer um grande campeonato na frente dos meus amigos e de minha família. Vai ser demais ver todos que eu gosto sentados na arquibancada me vendo defender a seleção brasileira em um Mundial. É uma motivação a mais para a equipe inteira.


E quais as chances do Brasil na competição?


Acho que temos todas as condições para buscar uma medalha. Só depende de nós. Hoje não existe equipe boba. Na Europa temos jogadoras de todos os países e vemos como as atletas crescem jogando em campeonatos super equilibrados. Não será fácil, mas o Brasil tem grandes jogadoras, com experiência internacional que com certeza farão de tudo para presentear a torcida com um lugar no pódio.


O que mudou na jogadora Érika, desde o início da carreira, na Mangueira, até hoje?


Estou muito mais madura, pessoal e profissionalmente. Saí de casa aos 15 anos e fui morar no exterior com 19. Isso fez com que eu crescesse mais depressa e aprendi a ser responsável e dedicada ao meu trabalho. O mais importante é que consegui superar as dificuldades e não desisti no meio dessa trajetória. Hoje vejo como valeu a pena. Com o basquete, consegui me estabelecer financeiramente e ajudar a minha família, fora os amigos que fiz e tudo que aprendi. Já tenho o meu carro e estou comprando meu apartamento. Agora posso retribuir todo o apoio que recebi da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Isso é a maior alegria da minha vida.


Na sua trajetória vitoriosa no basquete, quais as principais conquistas da sua carreira?

Pela seleção – campeã sul-americana cadete (Brasil – 1998), campeã sul-americana juvenil (Venezuela – 2000), medalha de bronze na Copa América Juvenil (Argentina – 2000), 7º lugar no Mundial Juvenil (República Tcheca – 2001), campeã da Copa América Adulta (Brasil – 2001), 7º lugar no Mundial Adulto (China – 2002), vice-campeã mundial Sub-21 (Croácia – 2003), campeã do Torneio Pré-Olímpico das Américas (México – 2003) e 4º lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas (Grécia - 2004). Pelos clubes – campeã paulista (BCN/Osasco – 1999), campeã carioca (Vasco da Gama – 2001), bicampeã do Nacional (Vasco da Gama – 2001 e São Paulo/Guaru – 2002), campeã da WNBA (Los Angeles Sparks – 2002), vice-campeã do Nacional (Unimed/Ourinhos – 2003) e campeã da Liga Espanhola (Barcelona - 2005). Em competições oficiais pela seleção brasileira, marcou 54 pontos em dez jogos.

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