domingo, 28 de agosto de 2005

Érika supera complexo por ser muito alta e hoje carrega a seleção

Alessandro Lucchetti

Pivô odiava sua altura e o basquete. Hoje, é o principal nome da seleção



Pela primeira vez na vida, a pivô Érika, da seleção brasileira de basquete, está sendo o centro das atenções — e gostando disso. A jogadora do Barcelona foi o grande destaque e a cestinha do Brasil nos dois amistosos do final de semana contra o Canadá. Os jogos fazem parte da preparação da equipe para a Copa América, que começa no próximo dia 14, na República Dominicana.

Por causa de sua altura (1,97m), Érika sempre foi alvo da curiosidade alheia e de brincadeiras, muitas delas maldosas. “Era chamada de girafa, coqueiro e de Gigante Guerreiro Daileon (personagem do seriado japonês Jaspion), por ser muito alta e magra”, recorda.

Complexada por causa de sua compleição física, a atleta preferia até pegar carona no caminhão que levava o pai, eletricista, ao trabalho. “Odiava entrar nos ônibus e ver os estudantes tirarem sarro de mim”.

Hoje, com a cabeça feita aos 23 anos, Érika tem orgulho da altura e não evita chamar a atenção. Pelo contrário — tem vários piercings e 13 tatuagens espalhadas pelo corpo. “Gosto de ser reconhecida hoje”.

Boneco de posto

Principal nome da nova equipe brasileira, Érika disse que jamais havia imaginado chegar a esse ponto. “Comecei muito tarde no basquete, com 16 anos, e era muito desengonçada. Eu me parecia com aqueles bonecos infláveis de posto de gasolina e não tinha força nem para arremessar a bola. Só continuei por insistência do meu pai e dos professores”, diz a pivô.

Érika teve a iniciação esportiva aos 15 anos. Ganhou uma bolsa de estudos no Colégio Santa Cruz, e por isso era obrigada a praticar todos os esportes. “Gostava de todos: do handebol, vôlei e atletismo, menos do basquete. Mas os professores achavam que eu tinha futuro no basquete, e me indicaram para treinar na Mangueira”, lembra a jogadora carioca.

Após seis meses no time da escola de samba, Érika se transferiu para o BCN/Osasco, por indicação de Maria Helena Cardoso, Heleninha e Macau. Graças à insistência de Macau, ela tomou gosto pelo esporte. Sete anos depois, recebe o reconhecimento. Nesta temporada, além de destaque na seleção, foi eleita a melhor atleta do Campeonato Espanhol.

Pivô ainda chora perda do bronze



A pivô Érika acha que sua grande conquista na seleção brasileira ainda está por vir, mas já poderia ter chegado. Em sua opinião, faltou um pouco mais de seriedade para que a equipe tivesse saído dos Jogos Olímpicos de Atenas com uma medalha. O Brasil ficou em quarto lugar. “Ao menos a decisão do terceiro lugar, contra a Rússia, a gente poderia ter vencido. Deixamos o bronze escapar pelos vãos dos dedos.”

O principal pecado da equipe, na opinião da jogadora, teria sido o excesso de confiança. “Confiamos demais em nós mesmas. Poderíamos ter lutado mais, com mais humildade e determinação. Acho que entramos com salto alto”, lamenta.

Sem querer causar melindres nas jogadoras mais experientes, Érika ressalta o perfil humilde da nova seleção que se prepara para a Copa América, que está desfalcada de Alessandra, Cíntia Tuiú e Kelly (por lesões); Janeth e Iziane (disputam a WNBA) e Helen (que está em lua-de-mel). “Sem criticar as jogadoras mais experientes, quero chamar a atenção para a vontade desta equipe jovem. Aqui todo mundo está querendo mostrar serviço”, enfatiza. “Se continuarmos como estamos, temos totais chances de medalha na Copa América.”


Fonte: Diário de São Paulo


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