quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Prata da casa

Texto de Fábio Zambeli no site Rebote

Reservas aos berros às margens da quadra, em meio ao gestual tresloucado do treinador ante a desesperada tentativa de colocar no prumo um quinteto sem rumo,sem inspiração.

O retrato da desorientação, do despreparo, da insensibilidade.

Não, não era o cenário de uma decisão de torneio juvenil nos rincões do interior brasileiro, mas, da final da Copa América feminina, competição de maior relevância no continente em um ano que antecede o Mundial doméstico.

Imagens deprimentes de uma noite de domingo.

Não que a derrota frente às valentes cubanas fosse surpreendente. Ao contrário, era previsível.

O que não estava no script desse folhetim que encerrou melancolicamente a intertemporada de três meses do selecionado nacional era a apatia de quem assumira o fracasso antes mesmo de ele se materializar.

O revés contumaz de 29-14 no terceiro quarto, depois de um equilíbrio artificial no primeiro tempo, expôs o desinteresse defensivo e a vulnerabilidade nos garrafões.

O time centro-americano desfilava com imponência até que as comandadas de Antonio Carlos Barbosa fossem alertadas nos cinco minutos finais para o que estava em jogo no duelo.

A partir de então, o espetáculo foi bizarro. O esboço de recuperação final deixou evidente que faltou não qualidade técnica, mas o mínimo de organização tática para que pudéssemos subir ao posto mais alto do pódio.

Que planejamento é um termo há muito abolido do glossário do bola-ao-cesto brazuca não é novidade.

Mas, desta vez, a CBB exagerou. Tratou com desdém uma competição que, embora não tivesse valor aparente (a vaga já estava assegurada), serviria de importante laboratório para a próxima temporada e revigoraria a auto-estima desta geração.

Ao chamar a seqüência de partidas na República Dominicana de “amistosos de luxo”, Barbosa dava a exata dimensão do que viria pela frente.

O período de preparação bateu recorde de instabilidade. Foram montados três times distintos – um para o Sul-Americano, outro para os jogos internacionais e desafios dos patrocinadores e outro para o Torneio das Américas.

Com o panorama desolador, volta de Santo Domingo com a prata no peito e apenas 16 minutos em quadra a gigante Ísis, pivô de 2,02m, cuja presença em atividade era aguardada com ansiedade pela comunidade ligada ao basquete tupiniquim.

Érika e Micaela, talentos reconhecidos internacionalmente, pagaram o preço de liderar um esquadrão sem norte.

Mas não cabem avaliações de performances individuais na recém-encerrada incursão caribenha.

Ficou patente que se desenha um projeto inconsistente para o desafio de 2006.

O Mundial que se avizinha não será, ao que tudo indica, o catalisador de forças esperado para impulsionar a modalidade.

Encerrado este ciclo trimestral de somente dois, mas emblemáticos, insucessos, cada atleta tratará de cuidar da sua subsistência e, quando se reunir novamente, a seleção voltará à carga com as estrelas espalhadas pelos quatro cantos do globo.

Será um devaneio imaginar outro desfecho para a trama?


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