terça-feira, 25 de outubro de 2005

Sílvia, 23, diz que disputou campeonatos sem saber que esperava bebê

Em 3 dias, atleta da seleção descobre gravidez e dá à luz

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC




Em uma semana a vida da ala Sílvia, 23, mudou radicalmente.
Há dez dias, a jogadora disputava a final dos Jogos Abertos do Interior pelo São Caetano, quando seu time bateu o Catanduva e ficou com o ouro. Apesar de feliz, Sílvia não se sentia muito bem.
Dois dias depois, procurou os médicos do clube reclamando de prisão de ventre. Foi examinada e teve um "caroço" encontrado na barriga. Assustada, procurou um médico conhecido de Americana, onde já morou. Para o seu espanto, o "caroço" era um bebê.
"Nunca imaginei que estivesse grávida. Não tive enjôo nenhum e também não senti desejo. A única coisa é que estava um pouco acima do peso", disse a atleta, que foi reserva da seleção brasileira na Olimpíada de Atenas, em 2004.
Como toma anticoncepcionais ininterruptamente, Sílvia já não menstrua há algum tempo.
Segundo ela, três dias após descobrir que estava grávida, deu à luz Luis Fernando, que nasceu com sete meses, 31 cm e pouco mais de 1 kg e continua internado.
"Achei que ela estava um pouco lenta, fora de forma, mas jamais pensei que ela pudesse estar grávida. Nem barriga ela tinha", afirmou o técnico do São Caetano, Norberto da Silva, o Borracha. "Como ela tinha acabado de jogar pela seleção, a gente nem se preocupou em fazer exames nela."
Quando se apresentou à equipe nacional para disputar amistosos e a Copa América, a ala foi submetida a uma bateria de testes, mas nenhum detectou a gravidez.
"Toda vez que as atletas se apresentam fazemos alguns exames de rotina, como avaliação cardíaca, hemograma, urina. Mas nenhum deles é específico para gravidez, e realmente não detectamos nada", explicou César de Oliveira, chefe do departamento médico da Confederação Brasileira de Basquete. "Como a Sílvia também não desconfiava, não havia motivos para fazer estes testes."
De acordo com Oliveira, a única queixa da atleta nos últimos tempos era de forte dor de estômago, tanto que ela foi submetida a endoscopia que detectou uma gastrite e uma hérnia de hiato.
"Levei um susto quando o pai dela ligou e falou: "Sabe a dor de estômago que a Sílvia estava reclamando ontem? Pois é, nasceu o filho dela'", disse Borracha.
"Não há como medir ou estimar se o fato de a atleta ter praticado exercícios vigorosos durante a gravidez traria problemas para o bebê. Há mulheres que trabalham na roça, de sol a sol, e não têm problemas", explicou Carlos Alberto Petta, professor de ginecologia da Unicamp. "No geral, orientamos para pegar leve."
"O maior risco era de sofrer uma queda ou um traumatismo no local", declarou Oliveira, que ainda lembrou o caso de outra atleta da seleção, Roseli, que jogou grávida o Mundial.


PINGUE-PONGUE

Comilona, Sílvia achou que quilos eram só gordura

DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda surpresa com a maternidade e dividida entre sua casa, onde repousa, e o hospital, onde Luis Fernando permanece internado, Sílvia falou à Folha sobre a "gravidez de três dias" e os momentos que antecederam o nascimento do filho. (TC)


Folha - Você não desconfiou de que estava grávida?

Sílvia Gustavo - Nunca. Fui ao médico na segunda passada por causa da prisão de ventre, e ele disse que eu tinha um caroço na barriga. Na terça, fui ao meu médico, que falou que eu estava grávida. Na quarta, fiz o ultra-som. E na sexta tive o bebê.


Folha - Mas seu apetite não aumentou, por exemplo?

Sílvia - Eu sempre comi muito, então não senti diferença. Sabia que estava uns 4 kg acima do peso, mas achei que era a comida.


Folha - Como foi o parto?

Sílvia - Acordei na quinta de madrugada com muita dor nas costas e no estômago e já não tinha conseguido comer nada durante o dia. Acordei meu irmão e ele queria me dar um remédio, mas eu quis ir para o hospital. Ainda não tinha contado para ninguém que estava grávida. Quando cheguei no hospital foi muito rápido, eu já estava tendo contrações. Os enfermeiros não acreditavam que eu estava tendo bebê porque não tinha barriga nem nada. Aí pedi que um deles contasse para o meu pai sobre a gravidez.


Folha - E o pai?

Sílvia - Engravidei quando estava jogando em Portugal. Não somos casados, mas o pai está muito feliz.

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Após atraso, baixas e polêmica com CBB, torneio dirigido por clubes e criado por ex-atleta começa com 1 patrocinador

Liga de Oscar larga hoje com o bolso vazio

TALES TORRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL


De bolso vazio, a Nossa Liga de Basquetebol joga ao alto hoje sua primeira bola. Sete meses depois das tentativas iniciais, o torneio idealizado pelo ex-jogador Oscar Schmidt dá a largada na cidade de Limeira (150 km a noroeste de São Paulo), às 20h10, onde a equipe da casa recebe o Rio de Janeiro.
A NLB, que chegou a anunciar 26 equipes, começará sua trajetória com 18 times, de sete Estados. Praças de pouca tradição no esporte, como Pará e Piauí, serão representados respectivamente por Paysandu e Teresinense.
O primeiro momento da iniciativa esbarra na falta de dinheiro. Transmitido pelo canal fechado ESPN Brasil, o torneio começará com apenas um patrocinador, o da bola do campeonato: Wilson.
De acordo com os organizadores, novos anunciantes devem ser divulgados em cerca de dez dias.
Curiosamente, a dificuldade em angariar dinheiro foi justamente um dos motivos que afastaram os clubes da CBB (Confederação Brasileira de Basquete).
Na nova liga, regulamento e tabela foram definidos pelos próprios times, que repartirão a receita do torneio.
A Folha apurou que o custo médio de um time na NLB será de R$ 20 mil mensais -no ano passado, as equipes reclamaram que as despesas do Nacional da CBB consumiam em média R$ 50 mil por mês. A queda no custo seduziu times pequenos. "Nosso orçamento não permitia opção mais cara", afirmou Miguel Sampaio, diretor do Paysandu.
A fórmula definida para cortar gastos foi reduzir viagens. Divididas em duas conferências - Norte e Sul-, as equipes visitantes jogarão duas vezes no Piauí e no Pará, abrindo mão do duelo que teriam direito como mandante.
A "caridade", entretanto, não será de graça. As equipes do Norte terão de colocar a mão no bolso para custear as despesas dos times visitantes -ou parte delas.
As dificuldades financeiras não são o único problema da NLB, que foi retaliada pela confederação antes mesmo de seu início. Não reconhecida pela entidade, a liga viu a debandada de times tradicionais, como Franca, Paulistano, Ribeirão Preto e as equipes do grupo Universo, que vão disputar o Brasileiro da CBB a partir de 11 de dezembro. Ao todo, 28 times participarão do Nacional.
A confederação foi além: os jogadores que participarem da NLB não poderão defender a seleção brasileira, que ano que vem disputará, entre 19 de agosto e 3 de setembro, o Mundial no Japão.
"Vamos valorizar quem acreditou no nosso projeto. Seremos transparentes e democráticos. É o que o basquete mais precisa", afirmou Oscar.
O campeonato feminino da NLB reúne até agora seis equipes: Rio Preto, São Bernardo, Piracicaba, Pindamonhangaba, Niterói e Maringá. A estréia está marcada para o dia 19 de novembro.

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NA TV - Limeira x Rio de Janeiro, ESPN Brasil, ao vivo, às 20h10


FRASE

Estamos empolgados em fazer parte desse momento histórico do basquete

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MIGUEL ÂNGELO DA LUZ
técnico do Rio


O PERSONAGEM

Juiz de futebol volta ao basquete depois de 36 anos

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL


A NLB resgatou do futebol o homem que cuidará da arbitragem de seus torneios.
Emídio Marques de Mesquita dedicou mais de 30 anos de vida aos gramados. Mas nunca esqueceu o esporte que o fez apitar pela primeira vez.
Mesquita iniciou a carreira no basquete em 1959 e, por dez anos, foi um dos árbitros mais respeitados do esporte. "Meus amigos dizem que no futebol não consegui mostrar tudo. Que era melhor no basquete. Mas só posso assegurar que sempre tentei trabalhar com correção", disse. Para ele, parte de seu sucesso no futebol se deveu à experiência no basquete.
"É muito mais difícil. Você tem de apitar o lance e explicar o que marcou. Mãe de árbitro de basquete sofre bem mais", declara o dirigente.
Mesquita vai comandar 40 árbitros e 60 oficiais. Eles foram recrutados do quadro de jubilados por idade da confederação brasileira, profissionais que haviam se afastado ou que "trocaram de lado". A CBB não deve permitir que seus árbitros atuem na NLB.
Uma de suas preocupações é treiná-los para as novas regras. Nos últimos dois minutos do jogo, o time com a posse de bola poderá pedir tempo. É uma cópia da NBA.


"Busão" reaparece e vira rotina na NLB

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos destaques negativos do último Nacional estará presente na primeira rodada da NLB: a viagem de ônibus. Esta foi a forma de transporte do time do Rio, que percorreu cerca de 530 quilômetros de estradas até chegar a Limeira na noite de ontem.
Em 2004, o desconforto causado pelo excesso de viagens gerou revolta nos atletas mais altos, que reclamavam de constantes dores nas costas. Na NLB, as viagens de avião devem ser feitas somente para lugares mais distantes.
"Isso não é novidade para a gente. Estamos empolgados em fazer parte deste momento histórico", falou o técnico do Rio, Miguel Ângelo da Luz. Luiz Zanon, treinador do Limeira, também usa o ineditismo para motivar seu elenco. "Meus atletas serão pioneiros, e eles precisam ter consciência deste momento." (TT)


TIRA-TEIMA

A nova liga é pirata ou funciona na legalidade?

A liga funciona de acordo com a Lei Pelé, principal legislação esportiva do Brasil, e foi chancelada pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pelo Ministério do Esporte. Quem não a reconhece como oficial é a Confederação Brasileira de Basquete, que promete continuar organizando seu próprio Nacional.

Os times poderão jogar os dois torneios?

Não. A confederação solicitou aos interessados em sua competição que enviassem um ofício garantindo que não participariam "de campeonato similar". Os interessados da NLB não descartam, contudo, recorrer à Justiça comum.

Quem será o verdadeiro campeão brasileiro?

A CBB não vai reconhecer o vencedor da NLB como campeão brasileiro. O campeão do torneio da CBB -e não o da NLB- vai representar o país em competições internacionais.

Os jogadores que atuarem na NLB podem ser convocados para defender a seleção brasileira?

Não. A CBB anunciou que as portas da seleção estarão fechadas para os atletas que não aceitarem disputar o torneio que ela organiza. Cerca de 300 atletas serão atingidos. A entidade alega que respeita orientação da Federação Internacional de Basquete. Os clubes filiados à NLB contestam. Dizem que seus atletas são filiados às federações estaduais, que são reconhecidas pela CBB. A equação os tornaria vinculados legalmente à Fiba.


A força do Piauí

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE


O treinador, o presidente, o tesoureiro, o relações públicas são o mesmo rapaz de 30 anos. Estão todos de parabéns.
A equipe nem nome possui. A cidade se acostumou com "CBT", a televisão prefere "Teresinense", os marqueteiros não descartam o potencial de "Teresina".
Os jogadores são baixos, inexperientes e desconhecidos. A maioria estava fora do mercado.
A receita nem de longe empata os modestos R$ 20 mil mensais de despesa e só saiu do zero porque os pais de garotos dos times de base organizaram uma vaquinha e a prefeitura aceitou contribuir.
Mas a ousadia da idéia, a coragem política de levá-la adiante e o empenho em realizá-la desmoralizam de antemão os que pinçam um dos motivos acima para desqualificar o novo clube do Piauí.
O primeiro representante do Nordeste em um torneio nacional masculino de basquete merece aplausos, e não a pilhéria fácil.
O projeto coincide com a trajetória de Chiaretto Costa, técnico há 13 anos e devoto da bola laranja há 21, desde que irmã Glorinha catou-lhe no pátio do colégio Maria Auxiliadora, no Recife, e disse: "Ei, grandinho, avise sua mãe que você vai praticar basquete".
Chiaretto tem duas escolinhas em Teresina. Iniciou no esporte cerca de 3.000 garotos -entre eles, 5 dos 12 que estrearão no dia 29, contra o Paysandu.
Há cerca de dois meses, ele ouviu falar da Nossa Liga, campeonato independente que nasceu da insatisfação dos clubes com os pedágios e favores cobrados pela confederação brasileira.
Telefonou para Oscar Schmidt, o idealizador do novo torneio. "Não imaginava que ele iria me atender", festeja o faz-tudo. "Mas ele conversou comigo, me ouviu. Eu nunca tinha sido ouvido."
A boa surpresa serviu de incentivo extra. O time foi criado a toque de caixa. Treinadores até então rivais se uniram. Prefeito e governador juntaram forças. Cerca de 2.000 piauienses abraçaram Oscar em agosto. Vinte e duas pessoas se dispuseram a ajudar a levantar a infra-estrutura. Uma clínica de cardiologia fechou patrocínio. A TV local já negocia a transmissão de todas as partidas.
Muitos em Teresina ainda desconfiam, claro. Não porque a equipe careça de predicados técnicos ou de instalações modernas -mas porque, assim como Chiaretto, não estão acostumados a receber a atenção do eixo Rio-SP.
O Piauí encontra-se tão à margem do basquete de alto rendimento que até aqui nem sofreu pressões por ter aderido à NLB.
Não que esteja imune à vileza política. Não pôde jogar, por exemplo, o último interestadual de base. A confederação só enviou passagens aos que votaram cordeirinhos na última eleição. O Piauí foi riscado; Roraima não.
É justamente por causa disso que o grito teresinense tem tanta importância. Um país excluído há de perceber que pode participar. Os piauienses, aliás, já estão recebendo várias ligações dos vizinhos. Gente que quer jogar basquete, que quer ver basquete, que vai acabar provando que o esporte é bem maior do que uma sigla.
O que começa nesta noite não é a NLB; é o Brasileiro, finalmente.

Carga negativa

Pelo terceiro ano, o Brasil leva biaba no Sul-Americano cadete. Os rapazes da seleção patrocinada pela Eletrobrás não resistiram a argentinos e uruguaios. Em julho, o time juvenil, patrocinado pela Eletrobrás, já havia sucumbido diante desses rivais. No ano passado, o vexame foi da equipe sub-21, patrocinada pela Eletrobrás. O basquete masculino brasileiro, aliás, não se classificou para nenhum Mundial de categoria de base neste milênio, desde que desfruta do patrocínio da Eletrobrás. No feminino, em dois anos a histórica hegemonia continental também foi para o ralo. A seleção juvenil, patrocinada pela Eletrobrás, não resistiu às argentinas em junho. A mesma derrota afligiu as cadetes, patrocinadas pela Eletrobrás, em 2004. Já que parece não ter mesmo vergonha de financiar os responsáveis por esse escândalo, a estatal tem de assumir cada um dos maus resultados.

E-mail melk@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo




Um comentário:

Unknown disse...

o Piauí continua sem força, a NLB ñ deu certo, o faz tudo abandonou o Estado, o basquete ficou ainda mais desacreditado.
Afederação local continua administrada pela mesma pessoa a 12 anos, o basquete futuro eletrobrás funciona com um núcleo fora da cidade.Algumas pessoas estão entrando em contato com o Ministério Público, parece q a chapa vai esquentar.