segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Vôlei vence o basquete em popularidade
As vitórias conquistadas na década de 90 e a organização garantem sucesso da modalidade


São Paulo
Agência Estado


Basquete e vôlei sempre brigaram pelo segundo lugar na preferência dos brasileiros pelos esportes coletivos, atrás do futebol. Mas a partir da década de 90, com a seleção brasileira masculina de vôlei conquistando o ouro olímpico em Barcelona (1992), a modalidade deu um salto e se consolidou como a mais organizada dentro do País. A Confederação de Vôlei (CBV), que administra o esporte, virou referência para outras modalidades, como handebol, remo e o próprio basquete, modalidades que querem conquistar melhores posições nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

Hoje, o vôlei conta com cerca de R$ 30 milhões por ano em patrocínios e Lei Piva (os principais investidores são Banco do Brasil e Olympikus). É o triplo do que arrecada a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) - o patrocínio da Eletrobrás, de cerca de R$ 7 milhões por ano, é o mais significativo. As modalidades também estão entre as que recebem maior percentual da Lei Piva - em 2005 o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) destinou R$ 1,8 milhão para o vôlei e a mesma quantidade para o basquete.

“O vôlei caiu no gosto popular porque é um esporte vencedor. Ganhou quase tudo nos últimos quatro anos ou, pelo menos, não ficamos fora do pódio. Nosso esporte passa uma imagem vencedora e é justamente com essa imagem que as empresas querem ser vinculadas. Hoje mostramos que temos organização e estrutura e, com isso, tenho certeza de que teremos seleções competitivas pelo menos nos próximos 15 anos”, avalia Ary Graça, presidente da CBV. “Nos últimos quatro anos, os valores dos contratos de imagem dos jogadores aumentaram em mais de 400%”, gaba-se o dirigente.

Enquanto as equipes dos rivais técnicos Bernardinho e Zé Roberto Guimarães passam por um ótimo momento, o basquete agoniza. A última participação da seleção masculina em Jogos Olímpicos foi em 1996, quando a geração de Oscar ficou em sexto na Olimpíada de Atlanta. Nem mesmo estrelas como Nenê e Leandrinho, hoje na NBA, salvam a imagem da modalidade.

O próprio Oscar, presidente da Nossa Liga de Basquete, admite que a modalidade não é um produto bom de venda - conseguiu apenas R$ 250 mil em cotas vendidas para a Wilson, marca de material esportivo, e a ESPN Brasil. Mais do que as seleções principais, as categorias de base vão mal. A última vez que a equipe masculina juvenil participou de um Mundial foi em 1999, com o oitavo lugar.

Feminino - A situação das mulheres é um pouco melhor. O time foi campeão mundial em 1994, medalha de prata na Olimpíada de Atlanta, em 1996, com Paula e Hortência, e bronze na Olimpíada de Sydney, em 2000. Mas os campeonatos nacionais são fraquíssimos: o último Nacional contava com apenas seis equipes, e Ourinhos foi campeão invicto, sem adversários. Em 2003, com a seleção infanto-juvenil, o Brasil foi medalha de prata no Mundial.

O basquete ainda está enfrentando um “racha”, o que coloca em cheque a própria administração do esporte: por que ídolos como Paula, Hortência e Oscar não estão com a CBB? Desde a criação da NLB, presidida por Oscar, e que tem o apoio das estrelas do basquete feminino, a troca de farpas é contínua entre clubes e dirigentes que estão com a CBB e os que estão com a NLB.

O vôlei tem uma vasta lista de títulos nas categorias menores: são 15 medalhas de ouro em Mundiais – somando-se as seleções infanto e juvenil, masculina e feminina. Com as equipes principais os resultados não poderiam ser melhores. O time masculino é campeão olímpico e mundial. As mulheres ganharam todas as cinco competições que disputaram em 2005, após a decepção e o quarto lugar na Olimpíada de Atenas, em 2004. Os dois times chegarão no Mundial do Japão, este ano, e na Olimpíada de Pequim, em 2008, listados entre as favoritos à medalha de ouro.

Consciente do crescimento do esporte “rival”, o presidente da Confederação de Basquete, Gerasime Bozikis, o Grego, esteve com Ary Graça há duas semanas. “Somos amigos pessoais e conversamos muito. Eu joguei no Botafogo, assim como ele. Estamos combinando de as categorias de base do basquete irem treinar lá no Aryzão (o centro de treinamento do vôlei) no meio do ano”, conta Graça. “Conversamos sempre, mas ninguém se mete com os assuntos admistrativos dos outros.”

O presidente da CBV, por sua vez, faz questão de afirmar que os R$ 30 milhões de investimento que sua entidade tem, anualmente, é bem menor do que o de outras federações. “Sabe quanto o Comitê Olímpico Italiano investe no vôlei? São R$ 90 milhões. Sem contar o vôlei de praia e a estrutura da Liga Italiana. Portugal, Grécia e França investem mais de 10 milhões de euros (R$ 25,3 milhões) todo ano. O Egito tem mais dinheiro que nós. Na lista da Federação Internacional estamos em 16º no ranking de verbas. Ainda assim, conseguimos ganhar de outros países. E cuidamos de tudo: vôlei de quadra e praia, Superliga e administração.”

Centro de treinamento é emprestado para outras modalidades

São Paulo
Agência Estado


O Centro de Treinamento do Vôlei, em Saquarema, no Rio, teve a construção finalizada em 2003 e custou quase US$ 1,8 milhão, R$ 5,4 milhões na época. Numa área de 108 mil metros quadrados se concentram as seleções de todas as categorias para se preparar, antes das competições. Poucas modalidades têm o privilégio de contar com um centro especializado no Brasil, caso da ginástica, que se concentra em Curitiba, e do beisebol, que tem um centro, mantido pela Yakult, no interior de São Paulo. E o Centro do Vôlei, que já é utilizado por outras modalidades, deverá ser emprestado ao basquete esta temporada para a preparação de seleções de categorias menores.

“Há dois anos as equipes de remo e judô já treinam em Saquarema. Pagam uma mixaria: só o restaurante, que é terceirizado, e as arrumadeiras”, assinala o presidente da CBV, Ary Graça, que também mantém relações estreitas com Coaracy Nunes, presidente da Confederação de Desportos Aquáticos, e Manoel Luís de Oliveira, que comanda a Confederação de Handebol.

O cartola do vôlei, que também é presidente da Federação Sul-Americana da modalidade, lançará em março um livro sobre a gestão no vôlei. “Trabalhei em banco e nossa administração tem visão empresarial. O amadorismo não existe mais no esporte. Quando assumi a presidência da CBV, em 1997, já peguei um trabalho forte que o (Carlos Arthur) Nuzman, hoje presidente do COB, tinha começado. O Grego, no basquete, não teve a mesma sorte que eu”, declarou Graça.

“A gestão do vôlei deveria ser seguida por outros esportes. Nós, do handebol, não temos acanhamento em fazer perguntas”, diz Manoel Luiz. “No Brasil, temos muitas quadras duras. Para conseguirmos liberação da Federação Internacional de Handebol para realizar algumas competições aqui, o vôlei já nos emprestou várias vezes o piso sintético (removível). Sabemos que o vôlei é, sem dúvida, o primeiro esporte no Brasil. O futebol não conta na realidade dos esportes límpicos.”

Hoje, o handebol trabalha com R$ 5,6 milhões anuais. Os principais patrocinadores são Petrobrás e Penalty. “Precisamos de um pouquinho mais de investimento para crescer, mas temos boas parcerias com prefeituras e clubes”, diz Manoel.


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