terça-feira, 26 de setembro de 2006

Basquete feminino brasileiro luta contra prazo de validade

Giancarlo Giampietro e Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo


Os dias de uma seleção brasileira feminina competitiva podem estar contados. A equipe terminou o Mundial feminino sem medalha, mas ao menos brigou de igual para igual com a campeã Austrália. O combalido cenário da modalidade no país, entretanto, ameaça sua produtividade para as próximas competições.


O técnico Antonio Carlos Barbosa já faz as contas. E os cálculos apontam uma margem de dúvida. A única certeza do treinador é que a seleção ainda chegará bem aos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, mesmo com a ala Janeth e as pivôs Alessandra e Cíntia Tuiú fora deste evento.

Para o próximo Mundial ou para as Olimpíadas de 2012, porém, as perspectivas são mais modestas. "Estamos em situação complicada. Podemos levar dois ou quatro anos sem muitos problemas. Mas o nó da questão é de 2008 para frente", afirmou o treinador ao UOL Esporte durante o Mundial, em São Paulo.

Na entrevista coletiva após a derrota para os Estados Unidos na disputa pelo bronze, porém, o técnico alargou o prazo de validade da seleção. "A nossa base é boa até 2012. A partir daí, não temos nada ainda."

Para 2012, qualquer projeção exclui logo de cara as campeãs mundiais em 1994 - Janeth, Helen, Alessandra e Tuiú. Do restante do grupo que ficou entre as quatro melhores do mundo no Brasil, apenas a ala-armadora Karen não chegaria às Olimpíadas de Londres com 30 anos ou mais.

"A nossa base é pequena. Temos a Palmira, que é uma ala-armadora de 84, e está jogando muito bem. Foi cortada do Mundial na última hora. A Karen, que jogou pouco aqui, também é de 84", afirmou Barbosa. "Nossa renovação é sofrida. A Paula ficou 22 anos na seleção brasileira, jogou seis mundiais. A Hortência ficou 20 anos, assim como a Janeth. No Brasil, quando surgem jogadoras como a Iziane e a Érika, temos que agradecer a Deus. São achados porque não temos base."

Iziane, Érika (duas de 1982), Palmira e Karen já fazem parte do grupo de selecionáveis. Barbosa tem outras revelações na mira para o próximo clico. Seriam as jogadoras que dariam fôlego ao próximo ciclo. O problema: em primeiro comentário, relacionou apenas pivôs, justamente a posição de Érika e Kelly. Franciele (Jundiaí, 18), Flávia Luiza (no basquete espanhol, 24), Ísis (Catanduva, 22) e Graziane (no basquete litaliano, 23).


"A Ísis, que é uma pivô de 2,02 m, e nós sempre a estamos convocando para a seleção. Ela enterra, é magra e bastante rápida. Ela jogava em Ourinhos, mas entrava pouco. Agora foi para Catanduva e está sendo mais utilizada. A Graziane é uma pivô técnica, um pouco baixa, não chega a ter 1,90 m, mas é muito técnica", comentou.

Para o perímetro, o treinador depois citou as alas Jaqueline, Joice e Izabela, todas de 20 anos. A primeira atua em Jundiaí e está sendo preparada para atuar como armadora, assim como Palmira. Esta é a posição que a seleção se vê mais carente.

Base em decadência

O ânimo de Barbosa não era dos melhores quando se recordou dos nomes acima. E o tom foi ainda mais grave na hora de projetar o futuro. E não é apenas o treinador da seleção que está preocupado.

"Nosso trabalho tem de cuidar das próximas gerações. Na base, chegamos a perder até uma partida para o Paraguai, isso é preocupante. É o resultado de uma queda de qualidade", disse o treinador Paulo Bassul, de Ourinhos e ex-auxiliar técnico de Barbosa. Se a seleção já andou caindo diante das paraguaias, o confronto com as argentinas é ainda pior. A geração de 1988 e 1989 do país foi superada pela rival nos últimos três anos.

"A situação está lamentável. A coisa deu uma caída, principalmente depois que grandes patrocinadores saíram. Nossas jogadoras têm de procurar emprego lá fora. O trabalho de base ficou com poucas pessoas para suprir. O nível caiu muito com pouca produção de jogadoras nacionalmente, em termos de qualidade e quantidade", afirmou Maria Helena Cardoso, bronze como jogadora no Mundial de 1971, ex-técnica da seleção brasileira, hoje na Ponte Preta.


Barbosa afirmou que os principais centros de formação de atletas na modalidade estão em Americana, Jundiaí, Santo André, Ourinhos, Osasco e São Caetano. São essas equipes que servem em grande escala às seleções de base. Todas em São Paulo. "É um processo de canibalismo, aproveitando revelações de outros Estados. A movimentação no Brasil até melhorou, mas não tem time para absorver no adulto", disse o técnico.

Os basqueteiros esperam agora que o Mundial no Brasil possa fazer da modalidade um novo alvo de investimentos. "Precisamos aproveitar o Mundial para fazer um trabalho de massificação do esporte. E incentivar mais as equipes adultas para dar continuidade a essa formação. Nos EUA, de cada 476 mil jogadoras, uma vai para a seleção. Tem gente jogando em todas as escolas, universidades, o universo é muito grande. Aqui a proporção é de quase um para um", disse Barbosa.

"Temos poucas equipes em atividade. Logo, são poucas as jogadoras disponíveis para a seleção, você não tem muita escolha", completou.

O FUTURO ESTÁ NAS MÃOS DELAS

Palmira Marçal,
22, armadora

Cortada do Mundial na última hora, será preparada para atuar como armadora da seleção brasileira


Karen Rocha,
22, ala-armadora

Convocada para o Mundial na véspera, entrou pouco, mas conta com o apoio do técnico Barbosa


Ísis Nascimento,

23, pivô

Com 2,02 m de altura, ela enterra e é a favorita para cobrir a vaga deixada pela saída de Alessandra

Graziane Coelho,
23, pivô


Fonte: UOL

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