sábado, 30 de dezembro de 2006

Irmãos Luz fixam recorde no basquete

Após Cíntia, Helen e Silvinha registrarem passagens na equipe nacional, família põe Rafael e Sully em seleção cadete

Façanha anterior pertencia à família Sobral, que já viu quatro de seu clã -Marta, Leila, Márcia e Jefferson-usarem a camisa amarela



O treinador Nelson Luz com os filhos Rafael e Sully, em Jundiaí


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL


O jogo estava equilibrado, e Rafael havia ganhado o rebote para o Brasil. Na disputa, porém, levou uma cotovelada do adversário venezuelano. Caiu e sofreu afundamento do dente.
"A partida só foi paralisada quando a bola saiu. O juiz nem marcou falta", espanta-se o armador, que viveu no Sul-Americano cadete do Uruguai sua primeira experiência internacional com a camisa do Brasil.
"Jogar na seleção é diferente. As partidas são mais disputadas. O jogo é mais rápido e intenso", diz o armador, que tem sido assediado por times da Europa -aos 14, já teve proposta de Barcelona e Real Madrid.
Sem saber, o armador contabilizou outra façanha: é o quinto integrante de sua linhagem a defender a seleção brasileira.
Anteriormente, a marca nacional no basquete era da família Sobral, com os irmãos Marta, Leila, Márcia e Jefferson.
Rafael é o caçula da família Luz, que já forneceu Cíntia, 35, Helen, 34, e Silvinha, 31, à seleção adulta. Outra irmã, Sully, 16, também faturou o Sul-Americano cadete neste ano.
"Minhas irmãs são o exemplo. Sempre que podem, assistem a nossos jogos e dão dicas", diz Sully, que atua na mesma posição e, segundo falam, possui estilo parecido ao de Helen.
"As comparações são inevitáveis. Eles terão que conviver com isso. Para o Rafa, será mais fácil. É o primeiro homem da família a jogar", acredita Helen, a última Luz na seleção adulta -jogou o Mundial deste ano.
"Acho que não vai dar para pegar a Helen na seleção", lamenta a irmã mais nova.
Nelson, o patriarca da trupe, atuou nos anos 70 pelo Araçatuba. Nunca jogou pela seleção. Sua maior glória foi conduzir a equipe às semifinais do Paulista. Seguidas lesões o fizeram parar. Passou para o banco.
"Provei que meus genes é que são bons", brinca, referindo-se ao fato de ser o elo entre os irmãos. Cíntia, Helen e Silvinha são fruto do primeiro casamento, com Cleonice. Sully e Rafael nasceram da união com Suely.
"Herdamos os genes do basquete do meu pai, mas a garra da minha mãe", devolve Helen.
As façanhas da família poderiam ser maiores. Em 2000, Cíntia, Helen e Silvinha treinavam para os Jogos de Sydney.
Surpreendentemente, a primogênita foi descartada do grupo no último corte do técnico Antonio Carlos Barbosa. Se tivesse integrado o elenco, as Luz formariam um inédito grupo de três irmãs medalhistas -o Brasil ficou com o bronze.
"A Hortência até disse que eu era uma das melhores jogadoras do Brasil e que não entendia por que não tinha ido para a Olimpíada. Mas foi opção do treinador na época", diz Cíntia.
Veteranas, elas planejam o fim da carreira. Cíntia quer desenvolver programa social em Louveira (SP), onde vive a mãe. Helen quer seguir no esporte de alguma forma. Silvinha pensa em atuar mais uns cinco anos, "até o joelho agüentar".
Em um momento conturbado do basquete nacional -há duas ligas em andamento-, todas apostam em luz no fim do túnel. E em ao menos um Luz na seleção. "A Sussu e o Rafa ainda têm muita coisa para mostrar no basquete. Aposto que eles serão o futuro da família nas quadras", diz Silvinha.

Atletas deram primeiro passo fora da quadra

A dinastia da família Luz poderia ter ocorrido nas piscinas. Foi na natação que começaram as mais velhas, Cíntia e Helen. Elas até chegaram a ganhar medalhas em disputas na região de Araçatuba e São José do Rio Preto.
Silvinha, quatro anos mais nova que a primogênita, também começou na água. Mas por conselho do médico, para tratar de bronquite.
A guinada ocorreu graças à decisão de Cíntia de deixar a raia. Estava com 13 anos.
"Teve uma hora que resolvi mudar para o basquete. E as irmãs foram no embalo."
Helen aponta outro motivo que pesou na decisão adolescente. "Era chato treinar sozinha. Não é aquela coisa coletiva do basquete. Admiro quem faz esportes solitários como atletismo e natação."
Nelson lembra que acabou com o revezamento 4 x 100 m do Araçatuba, clube que elas defendiam. "De uma vez só tirei a Helen e a Cíntia, que eram metade da equipe."
Silvinha ainda se embrenhou pelas pistas. "Ganhava as competições de velocidade do colégio. Daí, um amigo do papai me convidou para treinar atletismo. Não fiquei muito tempo", recorda-se.
A "segunda geração" de irmãos também pulou na água.
"A natação é o esporte básico para a formação da criança", prega Nelson.


Fonte: Folha de São Paulo

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