sábado, 30 de dezembro de 2006

Magic Paula cobra maior profissionalismo

Chico Sanches

O que falta para o basquete brasileiro subir no pódio? "Profissionalismo dentro e fora da quadra", responde Maria Paula Gonçalves da Silva. E o descrédito pelas administrações do esporte é tanta que Magic Paula não gosta de ser chamada de dirigente. "Sou gestora esportiva, este nome, dirigente, anda muito pejorativo", explica a ex-jogadora, hoje diretora do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa.

Para Paula, só uma perfeita união entre a Confederação Brasileira de Basquete, as federações estaduais, os clubes, os patrocinadores e, principalmente, os atletas poderá reverter o quadro. "Falta saber lutar pela melhoria da modalidade", comenta sobre a postura dos jogadores e jogadoras.

Magic Paula falou ainda sobre a atuação de Oscar, da Confederação e até sobre a expectativa para os Jogos Pan-Americanos no Rio em 2007.

O basquete brasileiro passa por uma difícil fase. Como você analisa tal situação?

Como sendo um momento de avaliação e união. O basquete precisa que todos os envolvidos se juntem para tentar as mudanças necessárias.

O Oscar tentou fazer um pouco fora das quadras do muito que fez jogando. Acha que ele obteve êxito na tentativa de mobilizar os clubes?

Quero esclarecer a posição dele, principalmente porque este movimento em torno da Liga (Nossa Liga de Basquete) começou com os clubes. Não foi ele que procurou os clubes. Foi um descontentamento dos próprios clubes em relação ao que vinha acontecendo que gerou a criação da Nossa Liga. Os clubes elegeram em assembléia o Oscar como presidente, depois aqueles mesmos clubes que queriam mudanças pularam de barco. O que eu penso é que não adianta o Oscar, Paula e Hortência lutarem pelo basquete, querer mudanças, mas sim os clubes e atletas.

Só agora as jogadoras e jogadores estão reclamando da Confederação. Eles estão unidos ou ainda sofrem muita pressão dos dirigentes?

Estas manifestações são perigosas, pois não adianta chorar ou gritar quando alguém sentiu que mexeu no bolso. O problema do basquete é de organização e planejamento. Os atletas têm de se manifestar também se o técnico não está correspondendo, se a preparação não está adequada. Na minha opinião falta bastante para este grupo saber lutar pela melhoria da modalidade.

Em todos esses anos de basquete, o que você aponta como fundamental para o crescimento da modalidade e que não está sendo utilizado?

Sofremos um problema de má gestão e não é novidade, isso já vem perseguindo de longa data a nossa modalidade. Enquanto o basquete não descobrir que o esporte se profissionalizou, que deve ser administrado como tal, continuaremos a ser reféns de uma péssima administração.

Você e a Hortência sempre travaram um duelo dentro e até fora de quadra. E a rivalidade entre vocês levou o basquete para um excelente nível técnico. Hoje, você diria que falta rivalidade entre jogadores e clubes para impulsionar o basquete?

Não gosto de comparar épocas e qualidade, pois não devemos viver do passado. O basquete hoje sofre com ausência dos seus ídolos, que estão atuando fora do País, e a falta de carisma destes atletas.

Depois de você deixar de atuar, como também a Hortência, o basquete apostou em Janeth. Ela mostrou a sua força. Mas, hoje, não temos um ídolo tanto no feminino como no masculino. Ou você acha que temos jogadores e jogadoras que podem atrair o público como você e o Oscar fizeram?

Carisma nem todo mundo consegue ter, mas se a gente pegar o vôlei, os atletas também atuam fora do País, mas conseguem mostrar a força coletiva quando jogam pelo Brasil.

O basquete não tem oferecido boas expectativas para as jogadoras que estão atuando. Muitas deixaram o Brasil. Como você encara a falta de equipes?

O problema não é a quantidade, então eu volto ao vôlei. Veja quantas equipes jogam o Campeonato Paulista. O problema é estrutural, da base, na formação. Os dirigentes do basquete não pensam na formação.

Ao mesmo tempo, a nova geração de atletas não tem encontrado times para se desenvolver. E, depois, não têm clubes para defender quando atingem a categoria adulta. O que falta?

Uma coisa puxa a outra. Para que se tenha novos atletas, precisamos do espelho, mas para que se tenha a renovação precisamos da base.

O basquete feminino mostrou garra no último Mundial. E chegou em quarto lugar. Foi um bom resultado?

Não. Dizer que a quarta colocação foi um bom resultado é tapar o sol com a peneira. Este é o terceiro Mundial em que o Brasil consegue a quarta colocação. Mesmo assim não existem mudanças, todo mundo acha que está bom. Está tão bom pra eles que a Seleção, a sua base mesmo, as titulares treinaram um mês. Ora, é comparar Mundial com um campeonato qualquer.

Um problema durante o Mundial foi a falta de estrutura. O Ginásio do Ibirapuera tinha goteiras. O Brasil tem condições de sediar grandes competições?

Este não é um problema do Ibirapuera, sim do Brasil. Só que os problemas do esporte são muito maiores do que as goteiras do Ibirapuera, o esporte e as instalações pararam no tempo. Não adianta querer fazer ginásios novos, se não se dá a mínima condição para quem faz o espetáculo. Os atletas!

As obras para o Pan estão atrasadas no Rio. Você acredita que a competição pode decepcionar em termos de organização?

Não vejo mais o Pan como uma referência mundial para o esporte. O Brasil vai ganhar muitas medalhas, mas não podemos ter o Pan como referência de que o esporte brasileiro evoluiu. Claro que algumas modalidades vêm fazendo bem feito.

Hoje, como dirigente, quais caminhos você pretende adotar para ajudar o basquete?

Não sou dirigente. Sou gestora esportiva, este nome, dirigente, anda muito pejorativo. Eu trabalho com a formação. Estamos contribuindo com a descoberta de novos talentos e isso não dá dinheiro, por isso muita gente não quer fazer. Você percebe que o resultado é fantástico quando se faz com carinho!

Você sente falta de jogar?

Não. Quando resolvi deixar as quadras, foi tudo muito bem digerido. Já se passaram seis anos e hoje eu me realizo de outra forma. Talvez se eu estivesse sem atividades, poderia estar sentindo dificuldades, mas não é o caso.

Você ainda poderia voltar ao basquete como técnica, dirigente ou até garota-propaganda de um clube?

Não digo que desta água não beberei, mas eu estou feliz com o que faço. Ser técnica eu descarto! Garota propaganda, se a empresa for séria, que mal tem! (risos)


Fonte:
Cosmo On Line

Nenhum comentário: