quinta-feira, 26 de março de 2009

"Preparação x desmotivação" marca 100 dias de pausa no basquete feminino

No país em que se diz que o ano começa apenas depois do Carnaval, o basquete feminino resolveu ir além. Com a temporada encerrada em meados de dezembro de 2008, os times estão desde então em uma longa folga e na preparação para campeonatos estaduais. O Paulista, mais forte do Brasil, começa no dia 1 de abril, totalizando cerca de 100 dias de intervalo. Entre os envolvidos, as opiniões variam, indo da desmotivação das jogadoras à comemoração das comissões técnicas, que ganharam tempo para trabalhar.
Nos prós e contras, a maior preocupação que gera um período tão grande afastado das competições é com o ânimo das jogadoras. É o caso de Micaela, da seleção e agora defendendo o Americana. "Eu sinceramente não gosto de ficar muito tempo sem jogar", admite a ala, que esteve nos Jogos de Pequim. "Queria estar em quadra no máximo em fevereiro, não estou feliz."
A jogadora afirma que até pensou em tentar uma transferência para o basquete europeu, mas sem sucesso. "A falta de motivação é um dos maiores problemas, temos de ter um desafio. Em tempos que ninguém está com dinheiro sobrando, o patrocinador também é prejudicado, e o basquete feminino fica esquecido. É ruim para todo mundo", comentou Micaela, defendendo também que a seleção poderia ter atividades neste período, já que não houve trabalhos desde os Jogos de Pequim. O próximo compromisso é a Copa América, em setembro, em Cuiabá (MT).
Mas não é apenas de reclamações que viveram as equipes na pré-temporada que pôde ser realizada em fevereiro e março. A técnica Branca Gonçalves, do Americana, sabe da chance da desmotivação surgir, mas tentou driblar este tipo de problema. "O técnico é como um vendedor de seguros. Se você consegue explicar para o grupo o motivo de tantos treinos, ele compra a ideia. Se falar que está uma porcaria, entra todo mundo nesta esfera", afirmou ela, que definiu o Nacional atual, de cerca de três meses, como "curto e insano".
Um dos fatos comemorado pelas comissões técnicas e aproveitado pelas jogadoras foi a possibilidade de tirarem um mês de férias, o que é raro no calendário feminino, voltando aos treinamentos em fevereiro. Geralmente, o Nacional da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) se estende até o início do ano. Em 2008, ele foi encerrado no fim de dezembro. Com a demora para o início dos Estaduais, houve tempo para a realização de exames e um trabalho de longo prazo para desenvolver o condicionamento físico.
João Nunes, preparador físico do pentacampeão brasileiro Ourinhos e da seleção, é um dos que pode festejar o tempo afastado das competições. "A competição é motivante, mas um dos grandes problemas que enfrentávamos era justamente o contrário: não ter tempo para treinar. Desta vez foi altamente positivo, as meninas vão chegar bem fisicamente no campeonato e quem planejou vai estar melhor", explicou ele, que trabalha para as atletas estarem no auge durante a fase de playoffs do estadual de São Paulo.
A crítica de Nunes - acompanhado por Micaela - é na demora da divulgação da data de início do Paulista. Sem um prazo, o preparador físico tem dificuldades de dar um programa específico para o desenvolvimento das jogadoras. "O preparador físico não é Deus, tem de trabalhar com cargas de treinamento e, se sabe o tempo, pode explorar métodos. Senão, trabalha no escuro", pontuou o integrante da seleção feminina.
Para a veterana ex-jogadora Janeth, os dois lados afetam as equipes enquanto não acontece a volta ao meio competitivo. "Quando o campeonato começa, as jogadoras acabam esquecendo (a desmotivação). Mas é ruim ficar nesta expectativa. Na parte física, é bom para o preparador poder conseguir o resultado que espera, além de haver tempo para a adaptação de novas jogadoras."
"É assim mesmo"
Procurado pela reportagem do UOL Esporte para falar do longo intervalo entre o final do Nacional da CBB e o Campeonato Paulista, o presidente da Federação Paulista de Basquete, Antonio Chakmati não mostrou preocupação. "Não houve demora, nosso calendário é assim mesmo", afirmou o dirigente. "O Nacional normalmente vai até janeiro e o nosso deve ir até setembro."
Segundo a CBB, ajustes devem ser feitos para a próxima temporada. A entidade alega que em 2008 os clubes pediram para que o término do Nacional acontecesse no mês de dezembro, devido às mudanças de prefeitos ocorridas no dia 1 de janeiro, já que muitos clubes têm apoio da municipalidade. O campeonato de 2009 está programado para outubro, com encerramento em janeiro de 2010. O mês de fevereiro será dedicado às férias das jogadoras, com o início dos estaduais de 2010 no mês de março.


CONSENSO: NACIONAL MAIS LONGO
E INSPIRADO NO MASCULINO

Apesar de atletas, ex-jogadoras e comissões técnicas terem opiniões distintas na longa pausa do basquete feminino nacional, em dois pontos há consenso. O país precisa de um campeonato mais longo e o maior espelho para isso está no novo campeonato masculino, o Novo Basquete Brasil (NBB).
Segundo Janeth, seria importante ter ajustes no calendário, com adaptações no Nacional e no Paulista, mas também coincidindo com as datas de jogadoras que atuam no exterior. Branca concorda: "O interessante seria que o Nacional tivesse seis meses, é fundamental dar uma importância maior para ele."
Ex-estrela da seleção, Hortência afirmou que os clubes tentaram criar uma liga no estilo do NBB, mas o projeto não teve êxito. "Está dando certo com os homens. Os times têm de opinar e se posicionar, pressionar. Não podem ficar pagando as jogadoras e não ter retorno."


Fonte: UOL

2 comentários:

Anônimo disse...

Hortencia tem razão, os clubes femininos são cordeirinhos e concordam com tudo!

Anônimo disse...

estranho, no basquete europeu sao praticamente tres meses d ferias, onde a jogadora nao recebe e procura outros times p jogar, como eh o caso das q vao pros eua ou as voltam p jogar no brasil...