domingo, 29 de agosto de 2010

Livro resgata a memória do basquete feminino brasileiro

livrobf Foi o Guilherme Costa, do blog ‘Londres 2012 já começou’, que me revelou a existência desse livro e me avisou da disponibilidade dele na Livraria Cultura (veja o link).

O nome é “Mulheres à Cesta - O basquete feminino no Brasil (1892 - 1971)” e a autora é Claudia Guedes, professora da San Francisco State University.

Comprei o meu exemplar na semana passada e devorei suas duzentas e oito páginas rapidamente.

O trabalho de Claudia é um belo registro de um esporte cujas memórias são pouco acessíveis e estão dispersas nas mentes dos que as vivenciaram.

Para recontar essa história, Claudia inicia seu livro com detalhes da invenção do basquete por James Naismith e o início da participação feminina na modalidade com Senda Berenson. Há ainda breves relatos sobre a chegada do esporte ao Brasil e uma contextualização com o momento histórico da mulher no Brasil do ínicio do século 20.

A partir daí, Claudia passa a apresentar os relatos de suas entrevistadas, as personagens que – como revela a autora - “abriram caminhos para a entrada do basquete feminino nas novas Olimpíadas e para a nova geração de meninas brasileiras, como Paula, Hortência, Branca, Vânia Hernandez, Marta, etc.”

Os relatos estão centrados principalmente na história pessoal de cada uma, na turnê da seleção brasileira na Europa em 1965 e na épica conquista da medalha de bronze no Mundial de 1971, em São Paulo.

O livro tem uma edição luxuosa e um belo projeto gráfíco. Há alguns erros na revisão, mas que não conseguem diminuir o prazer da leitura.

Os relatos são abertos com a entrevista de duas precursoras da modalidade  no Brasil:  Zilda Ulbrich (a Coca, bronze no Pan-Americano de 1955 no basquete e no vôlei) e Angelina Bizzarro (ouro no Pan de 1967).

A partir daí, os relatos são das doze integrantes da conquista do bronze do Mundial de 1971: Benedita Anália de Castro, Delcy Ellender Marques, Elza Arnellas Pacheco, Jacy Boemer Guedes de Azevedo, Laís Helena Aranha da Silva, Maria Helena Campos (a Heleninha), Maria Helena Cardoso, Marlene José Bento, Nadir Léa Bazzani, Nilza Monte Garcia, Norma Pinto de Oliveira (a Norminha)  e Odila Fernandes de Camargo. Junto das doze, Claudia incluiu duas atletas que fizeram parte dos treinamentos para a competição: Cleonice Maria Alvez Gonzales e a hoje cantora Simone Bittencourt de Oliveira. As catorze estão registradas na capa do livro.

As entrevistas trazem uma série de revelações impressionates, que ajudam a compreender melhor a história do basquete feminino no país e sua tímida evolução desde então. Separei alguns dos meus trechos preferidos:

“Jogava com tênis Conga. All Star era só para as stars mesmo.” Simone

“Em 71, erámos desconhecidas. Quando chegamos ao Ibirapuera, vimos aquilo lotado pelo lado de fora. Tinha fila pra entrar. Aquilo deu uma tremedeira na perna da gente, que foi difícil até andar para chegar ao vestiário.” Maria Helena Cardoso

“Em 91, quando voltei do Pan-Americano de Havana, folheei coisas antigas em casa e encontrei uma entrevista do Valdir Pagan, nosso técnico em 1971. Vinte anos depois, eu estava falando dos mesmos problemas: falta de dinheiro, de treinamento, de intercâmbio.” Maria Helena Cardoso

“Nunca tive um técnico. Em São Vicente, o técnico era da natação e pusaram-no para ser técnico do basquetebol. Ele dizia que não sabia nada. Ele dizia - “Olha, gente, vamos ser amigos, vamos jogar. Vocês prometem ganhar o jogo?” Heleninha

“Em um jogo, cada uma queria jogar individualmente. A Maria Helena entrou no vestiário, pegou um saco de bolas e lançou uma para cada jogadora e disse: “- Se cada uma quer jogar por si, pronto! Cada uma tem uma bola agora!” Heleninha

“Os profissionais faziam muita barbaridade com a gente. Levavam a gente pra quadra e mandavam dar cinquenta voltas. Cinquenta voltas rodando, você saía tonta!” Norminha

“Com uma quantidade muito pequena de meninas fazendo basquete, você consegue ser campeão do mundo e medalha de prata  em uma Olimpíada. E como?” Laís Elena Aranha

Como aponta Claudia na introdução, que o livro motive “pesquisadores a criarem outras obras e com isso possamos conhecer outras histórias”.

16 comentários:

Fabio Martins disse...

Ja comprei meu exemplar... Pena que custa a chegar aqui nos EUA. Falando nisso, voce sabe onde eu encontro o livro da Paula? Abraco!

Miguel Gonzalez disse...

Bert, você sabe me dizer se este livro fala do basquete feminino no Rio de Janeiro?

A foto da capa é em Copacabana e o Rio já teve grandes times, como o Flamengo de Angelina e Norminha, campeão mundial de 1966.

Bert disse...

Oi, Fábio!

Espero que você também goste do livro.

O da Paula tá fora de catálogo, pelo que eu sei.

Mas você consegue em alguns sebos. Dá uma olhada no http://www.estantevirtual.com.br/

Abs!

Bert disse...

Miguel,

Algumas dessas jogadoras jogavam no Rio e isso está registrado, bem como o relato da preparação que foi no Rio.

Abs

fábio balassiano disse...

livraço, amigos!
vale mto a pena comprar mesmo

abs, fábio

Lothar disse...

Já comprei o meu. Tô atrás agora do livro do Campineiro, que não encontro de jeito nenhum.

abç.
Carlos.

Bert disse...

Campineiro?

Lothar disse...

Newton Correa. Treinador do grande Votarantim da década de 50. Por onde passaram Angelina, Benedita, Genézia, Heleninha, Maria Helena, Norminha, Ritinha e tantas outras.

link do livro (quarto de baixo para cima):

http://www.ottonieditora.com.br/publicacoes.php?tema=diversos

Bert disse...

Opa, legal, hein?

Miguel Gonzalez disse...

Oi Bert, tem alguma coisa falando sobre os Campeonatos Estaduais do Rio? Há fotos dos times do Rio desta época?

Lothar disse...

Recebi o meu exemplar hoje. Não há nada sobre os estaduais do Rio. E sinceramente nem deveria ter pois não é o foco da obra.

Prós: As 16 entrevistas com as jogadoras. Feitas entre 2002 e 2005. Bom saber que todas estão vivas e felizes.

Contra: Muitos erros tipográficos, mas muitos mesmo. Não se faz mais revisão de texto?

Muitos erros históricos. A impressão que se dá é que a autora pouco pesquisou e pouco sabe da história do basquete feminino brasileiro limitando-se a fazer as entrevistas com as as jogadoras e dissertar sobre os primórdios do esporte nos EUA (muito) e no Brasil (pouco). Informações que se consegue sem muito esforço pesquisando na Internet. Renato Brito Cunha virou Antônio Brito Cunha, Miguel Ângelo virou Ivan Ângelo, Aglaé virou Glaer e Adhemar de Barros concedeu ajuda de custo para o Sul-Americano de 1948 (sic), competição do qual o Brasil nem participou! O Sâo Caetano EC jamais importou as jogadoras do Flamengo. Foi a prefeitura de SC quem as levou para o Monte Alegre e não para o SC! Vocês conhecem o Ari Ventura? Não? Mas o Ari Vidal com certeza vocês conhecem. E por aí vai pois ainda não cheguei a metade do livro.

Poucas fotos. Caramba! Eu quando entrevistei a Coca consegui mais fotos da seleção do que o total de fotos publicadas no livro!

Conclusão: Nota 8. Recomendo muito a compra do livro porém única e exclusivamente pelas entrevistas das jogadoras que de qualquer maneira formam a maior parte do livro.

abç.

Bert disse...

Oi, Lothar!

Você tem essa entrevista com a Coca pra compartilhar conosco?

Abs!

Lothar disse...

Bert, a minha entrevista com a Coca, assim como com outras ex-jogadoras, fazem parte de um projeto maior ainda anos-luz de ser terminado, porém com certeza um dia será publicado. Vamos aguardar.

Enquanto isso para atiçar o apetite da galera uma foto do meu arquivo no link baixo:

http://yfrog.com/mxpa1959j

Você é capaz de identificar as jogadoras?

abç.

Claudia Guedes disse...

Prezado Lothar.
O livro teve revisao sim e todos os erros apontados por vc foram corrigidos. Todavia a revisora mandou o arquivo para a grafica e eles imprimiram o arquivo de layout, ou seja o arquivo sem revisao.

Infelizmente erros acontecem... e nao houve nada que eu pudesse fazer a nao ser destruir os exemplares e poupar outros 20.000 dolares e quem sabe publicar daqui dez anos.

Mas nao fique triste, a versao em ingles sera publicada em breve e com todos os erros corrigidos.
Esta obra teve como principal objetivo resgatar a historia de quem fez do basquete feminino um esporte popular no Brasil.
Eh uma narrativa historica baseada na vida e no depoimento das jogadoras, metodologia de pesquisa historica na qualfui treinada nos Estados Unidos.

Desejo toda sorte do mundo na publicacao do seu livro e espero que vc tenha mais sorte do eu.
Um abraco
Claudia Guedes

Anônimo disse...

Explicado Cláudia. Parabéns pelo livro. Com certeza com as correções o que é bom ficará ótimo. Não deixe de avisar aqui do lançamento em inglês.

abç.
Carlos.

Valentina disse...

LOthar,identifiquei quatro das cinco jogadoras: Heleninha, Marlene, Maria Helena e Coca. Linda foto, um tesouro!
Abs