terça-feira, 19 de maio de 2015

As Memórias do Pan de Maria Helena Cardoso



Campeã como jogadora e como técnica, Maria Helena Cardoso deixou seu nome gravado na história da Seleção Brasileira Adulta. Ao lado de grandes nomes do basquete feminino como Norminha e Heleninha, Maria Helena fez parte de uma geração vencedora do esporte nas décadas de 60 e 70. Como jogadora da Seleção Brasileira, a ala-pivô foi fundamental na conquista do bicampeonato nos Jogos Pan-Americanos de Cali, em 1971, na Colômbia. 

A participação nacional no Pan-Americano de Cali foi marcada pela conquista do lugar mais alto no pódio no basquete masculino e no feminino. 

"Foi uma conquista de muito valor, pois conseguimos um feito inédito com a conquista dupla do basquete feminino e masculino. Havíamos acabado de disputar o Campeonato Mundial de São Paulo (Brasil/1971) e começamos a ser conhecidas pelo mundo. Estávamos entrosadas e bem treinadas, mas quando você sai de uma competição como um Mundial e tem sucesso, é normal relaxar e achar que os próximos jogos serão fáceis. Conseguimos resolver e nos reencontrar depois da derrota para o Canadá (69 a 63). E conquistamos de forma brilhante essa medalha sobre Cuba (66 a 62)", contou Maria Helena.

Em 1971, Maria Helena estava com 31 anos e no auge da carreira, mas a primeira vez que defendeu a categoria adulta tinha apenas 16 anos. No ano seguinte, viria a se tornar professora. 

"Estava no auge da carreira como jogadora em Cali. Esse título marcou minha vida como atleta. Eu tinha apenas 16 anos na primeira vez que defendi a equipe adulta na conquista do bronze no Campeonato Sul-Americano (Equador/1956). Aos 17 anos me formei como professora. Tenho formação em Educação Física e Pedagogia. E me transformar em técnica aconteceu de forma natural para mim. As jogadoras dizem que na época que eu jogava já tinha o jeitão de técnica, mas porque sempre fui uma jogadora que gostava do coletivo", pontuou. "Sou de uma família muito grande, de dez irmãos, e tínhamos que trabalhar em equipe. E como meus pais não tinham muito dinheiro, precisávamos dividir tudo e com isso trabalhar o coletivo. Sempre vivi em um ambiente de equipe dentro de casa. Acho que isso me ajudou como jogadora e depois como técnica", completou a ex-jogadora.

Os Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991, também foram de conquistas para o basquete feminino brasileiro. Com nomes que perduram até hoje, como Paula, Hortência e Janeth, o Brasil bateu as donas da casa na final por 97 a 76 e levou o ouro. As jogadoras, inclusive, receberam as medalhas das mãos do presidente Fidel Castro.

"Nunca imaginei que depois de 20 anos voltaria a conquistar uma medalha. Se tivessem me dito em 1971 que isso ia acontecer, não acreditaria. A nossa preparação contou com grupo de jogadoras de muito talento e super preparadas. No primeiro jogo a vontade era tão grande que a ansiedade quase atrapalhou. Acho que elas acreditaram que ganhariam o título no primeiro jogo. Na estreia contra os Estados Unidos perdíamos de 21 a 5. No tempo técnico chamei o grupo na responsabilidade. Conseguimos encontrar o eixo a tempo e virar o jogo ainda no primeiro tempo. Com o time completamente diferente alcançamos a primeira vitória. Depois, passamos por Canadá, Cuba e Argentina na primeira fase. Batemos novamente o Canadá na semifinal e ganhamos de Cuba mais uma vez na decisão. Essa equipe era tão boa que podia inventar as jogadas na hora que elas faziam de forma extraordinária", frisou. 

Na partida semifinal entre Estados Unidos e Cuba, as brasileiras estavam na plateia, quando tocou uma trombeta para anunciar a chegada de Fidel. A partida parou para a entrada do cubano.

"Todo mundo parou para aplaudir. Cuba que vinha perdendo a partida para os Estados Unidos se transformou, virou o jogo e foi para final. Na volta para a concentração vi que as jogadoras ficaram impressionadas com a reação cubana e começaram a se perguntar o que aconteceria se Fidel também fosse assistir a partida delas contra as adversárias. Mas era também o dia da final do beisebol e esse era um esporte muito popular em Cuba. Imaginamos que ele não fosse. Virei para as jogadoras e mandei elas relaxarem. Disse que não adiantava ficar pensando na possibilidade. Na hora do jogo faríamos o que tínhamos ido fazer", relembrou a técnica.

O governante de Cuba ainda tentou conversar com a dupla Paula e Hortência antes do jogo, mas Maria Helena não permitiu que ele se aproximasse. Durante a entrega das medalhas, Fidel brincou com Hortência e Paula. A cena se mantém como um dos momentos marcantes da participação brasileira em Pan-Americanos e também na carreira das jogadoras.

"Não deu outra. Na hora do aquecimento tocou a trombeta e Fidel entrou no ginásio. As brasileiras começaram a se olhar assustadas. Antes de ir para a Tribuna de Honra, Fidel desceu as escadas e ficou na beira da quadra chamando Paula e Hortência para conversar. Mas disse que na hora do aquecimento não poderiam deixar o grupo. Caminhei em direção a ele diante dos olhares curiosos das meninas. Quando cheguei perto de Fidel logo perguntou quem eu era. Me apresentei e escutei um "Sinto muito, mas hoje quem ganha é Cuba". Só respondi que primeiro jogaríamos e que se Cuba ganhasse, estariam de parabéns. Se ele tivesse falado essa frase para as duas, provavelmente, teriam se desesperado. Repeti para elas que tínhamos trabalhado muito e que merecíamos aquela medalha. Tive fé e sabia que ia ganhar quem merecesse mais", destaca. "Depois da partida, Fidel brincou e disse que não queria entregar a medalha para as duas porque eram bruxinhas. Por isso não erravam os alvos, mas acabou reconhecendo e se rendeu ao encanto da dupla. Foi uma vitória muito linda e a repercussão foi grande e é lembrada até hoje, depois de 24 anos".

A conquista nacional desta geração de 1991 foi o resultado de uma trajetória do basquete feminino que começou em 1979, no Pan de San Juan, quando a equipe brasileira conquistou o quarto lugar. Depois, em Caracas (1983), na conquista do bronze e em Indianápolis (1987), a prata. 

JOGOS PAN-AMERICANOS DE CALI (COLÔMBIA) 
Data: 2 a 12 de agosto de 1971 

Delegação do Brasil 
Benedita Anália de Castro (9pts / 2 jogos), Delcy Ellender Marques (74pts / 6j), Elza Arnellas Pacheco (40pts / 6j), Jacy Boemer Guedes de Azevedo (12pts / 4j), Laís Elena Aranha da Silva (28pts / 6j), Maria Helena Campos "Heleninha" (8pts / 5j), Maria Helena Cardoso (40pts / 6j), Marlene José Bento (42pts / 5j), Nadir Lea Bazzani (18pts / 2j), Nilza Monte Garcia (95pts / 6j), Norma Pinto de Oliveira "Norminha" (67pts / 6j) e Odila Fernandes de Camargo (15pts / 5j). Técnico: Waldir Pagan Peres. 

Campanha do Brasil 
Brasil 98 x 45 Colômbia 
Brasil 63 x 69 Canadá 
Brasil 65 x 61 México 
Brasil 64 x 60 Estados Unidos 
Brasil 86 x 52 Equador 
Brasil 66 x 62 Cuba 

Classificação final 
1º- Brasil; 2º- Estados Unidos; 3º- Cuba; 4º- México; 5º- Canadá; 6º- Equador; 7º- Colômbia. 

JOGOS PAN-AMERICANOS DE HAVANA (CUBA)
Data: 03 a 18 de agosto de 1991 

Delegação do Brasil 
Adriana Aparecida dos Santos (12), Ana Lúcia Mota (7), Hortência de Fátima Marcari (133), Janeth dos Santos Arcain (87), Joycenara Baptista (7), Maria Paula Gonçalves da Silva (110), Marta de Souza Sobral (92), Nádia Bento Lima (24), Roseli do Carmo Gustavo (5), Ruth Roberta de Souza (23), Simone Pontello (9) e Vânia Hernandes de Souza (9). Técnica: Maria Helena Cardoso.

Campanha do Brasil 
Brasil 87 x 84 Estados Unidos 
Brasil 74 x 66 Canadá 
Brasil 90 x 87 Cuba 
Brasil 83 x 56 Argentina 
Brasil 87 x 78 Canadá 
Brasil 97 x 76 Cuba 

Classificação final 
1º- Brasil; 2º- Cuba; 3º- Estados Unidos; 4º- Canadá; 5º- Argentina.

Fonte: CBB

Um comentário:

Anônimo disse...

Por onde anda Maria Helena? Ela tem trabalhado com o basquete ainda?Alguém sabe de notícias? E a Janeth que estava sendo treinada para ser técnica da seleção adulta e hoje em dia não existe mais nada sobre ela, o que aconteceu?